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Desde 2022, autoridades norte-americanas acompanham de perto os desdobramentos envolvendo o Pix no Brasil. A iniciativa, criada pelo Banco Central e amplamente adotada desde 2020, entrou no radar do governo dos Estados Unidos por supostamente alterar o equilíbrio de mercado no setor de pagamentos eletrônicos.
O alerta foi emitido pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), que, no relatório anual daquele ano, demonstrou preocupação com o papel desempenhado pelo Banco Central como regulador e, ao mesmo tempo, operador do Pix. Segundo o documento, era necessário garantir condições justas para todos os concorrentes no mercado brasileiro de pagamentos.
Esse relatório integra uma análise mais ampla do USTR sobre obstáculos comerciais estrangeiros que possam impactar exportações, investimentos e o comércio eletrônico norte-americano com 63 países, incluindo o Brasil.
Embora o Pix tenha sido citado apenas na edição de 2022, menções ao sistema financeiro brasileiro continuam aparecendo em edições seguintes. O USTR é um órgão do alto escalão do governo dos EUA, responsável por elaborar e coordenar a política de comércio exterior do país.
Mais recentemente, o mesmo escritório anunciou, nesta quinta-feira (16), a abertura de uma investigação sobre políticas adotadas pelo Brasil, incluindo a promoção estatal do Pix. A medida, segundo o ex-diretor do USTR, Jamieson Greer, teria sido motivada por instruções do ex-presidente Donald Trump. O objetivo seria verificar supostas ações que afetariam empresas de tecnologia dos EUA, como plataformas de mídia social e empresas do setor financeiro.
Disputa de mercado
Especialistas brasileiros apontam que as críticas partem da concorrência direta que o Pix representa para serviços tradicionais de pagamento, como operadoras de cartões e o próprio WhatsApp Pay, ferramenta da Meta lançada no Brasil no mesmo período em que o Pix entrou em operação.
Somente em 2023, o sistema movimentou R$ 26,4 trilhões, segundo dados do Banco Central. Para a economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, o Pix trouxe agilidade, inclusão bancária e uma solução eficiente e acessível, alinhada aos princípios de competitividade do mercado.
A reação tardia do governo Trump pode estar relacionada a interesses comerciais: quando o Pix foi lançado, a Meta — comandada por Mark Zuckerberg, aliado político de Trump — também havia anunciado a chegada do WhatsApp Pay no país. No entanto, o Banco Central e o Cade interromperam o serviço logo após o anúncio, alegando necessidade de avaliação regulatória.
De acordo com Cristina Helena, a decisão do BC foi acertada. “A proposta da Meta operava fora das regras do sistema financeiro nacional, sem integração com o Sistema de Pagamentos Brasileiro e sem controle adequado sobre as movimentações financeiras”, explicou.
O Banco Central e o Itamaraty foram procurados para comentar as recentes menções do USTR, mas até o momento não se manifestaram.