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Brasil enfrenta paradoxo energético: Excesso de solar e eólica causa 'curtailment' em meio à bandeira vermelha - Difusora FM 99.5

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Brasil enfrenta paradoxo energético: Excesso de solar e eólica causa ‘curtailment’ em meio à bandeira vermelha

Por Henrique Ferian

 Três Lagoas, MS – Enquanto consumidores brasileiros pagam tarifas elevadas de energia elétrica sob a bandeira vermelha, um fenômeno crescente e paradoxal desafia o setor: o `curtailment`, ou corte da geração de energia de fontes renováveis como solar e eólica. O professor Murilo Micelo Frigo, especialista em eletrotécnica e automação do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), em entrevista à Jovem Pan Três Lagoas, detalhou como o excesso de produção dessas fontes, antes vistas como a solução para a crise energética, agora gera instabilidade e custos adicionais ao sistema elétrico nacional. O problema, que explodiu nos últimos anos, exige soluções urgentes em gestão de demanda e armazenamento para evitar apagões e otimizar a transição energética do país.

O que é o `curtailment` e por que ele acontece?

O termo `curtailment`, na tradução livre, significa corte. No contexto energético, refere-se ao desligamento programado ou solicitado de usinas geradoras, especialmente as de grande porte, quando há um excedente de energia na rede elétrica. O Operador Nacional do Sistema (ONS) é o responsável por essa gestão, visando manter a estabilidade do sistema. “Acontece um corte de energia dos geradores […] por estar naquele momento tendo ali uma tendência de excesso de energia”, explica o professor Frigo.

O paradoxo reside no fato de que, ao mesmo tempo em que o Brasil experimenta esse excesso de energia renovável, os consumidores enfrentam a bandeira tarifária vermelha, que indica condições desfavoráveis de geração e acionamento de termelétricas, fontes mais caras e poluentes. A explicação para essa aparente contradição está na natureza intermitente das fontes renováveis. A energia solar, por exemplo, tem seu pico de geração por volta do meio-dia, quando o sol está a pino. Se a demanda por energia não acompanhar esse pico de produção, o excedente pode se tornar um problema.

“É contraditório porque, sim, nós estamos tendo as duas situações no mesmo dia, corte de energia renovável ao longo do dia e termelétrica sendo acionada à noite para atender o horário de pico noturno, gerando um custo maior e sendo cobrada uma bandeira tarifária”, ressalta Frigo. Isso evidencia uma falta de otimização e sincronia entre a geração e o consumo, um desafio inerente à transição energética.

O risco do apagão por excesso de energia

Contrariando a lógica comum de que apagões são causados pela falta de energia, o professor Murilo Frigo alerta que o excesso também pode levar a colapsos no sistema. “Como que excesso de energia gera apagão?”, questiona o professor, explicando que o sistema elétrico exige um balanço instantâneo entre geração e consumo. “No sistema elétrico não pode faltar nem sobrar energia. O balanço é instantâneo.”

Quando há falta, a tensão cai e a carga precisa ser desligada. No entanto, o excesso de energia pode ser igualmente prejudicial, causando “um monte de transtorno no sistema”. Elevações nos níveis de tensão, aumento da frequência e a dessincronização das usinas são algumas das consequências. “Você tem uma perda de instabilidade e aí corre-se o risco de cortar a carga ou cortar a geração para poder manter o sistema estável. Então não pode sobrar energia também”, afirma Frigo. Este cenário complexo exige uma gestão cada vez mais sofisticada da rede elétrica.

O impacto nos pequenos geradores e o crescimento exponencial do problema

Atualmente, os pequenos geradores de energia solar fotovoltaica, como residências e pequenos comércios, não são diretamente afetados pelo `curtailment`. O professor Frigo esclarece que isso se deve a dois fatores principais: a ausência de regulamentação específica para o corte da micro e minigeração distribuída e as dificuldades técnicas para realizar a desconexão remota desses sistemas. No entanto, o debate já está em curso para um futuro “corte contábil”, onde os custos da energia não injetada pelas grandes usinas seriam rateados entre todos os geradores, incluindo os pequenos.

O problema do `curtailment` tem crescido de forma alarmante no Brasil. O professor apresentou dados que ilustram essa escalada:

2022: 0,7% de corte

2023: 4% de corte

2024:10% de corte

Ano atual:17,2% de corte

“Ou seja, é uma exponencial de um problema que está, vamos usar um termo drástico, explodindo”, alerta Frigo. Esse crescimento acelerado demonstra a urgência em encontrar soluções eficazes para gerenciar a crescente participação das energias renováveis na matriz energética brasileira.

Soluções em debate: gestão da demanda e armazenamento

Diante desse cenário, diversas soluções estão sendo discutidas por universidades, governo e organismos do setor. O professor Murilo Frigo destaca dois grupos principais de abordagens:

  1. Gestão da Carga (Aumento da Demanda Diurna)

Uma das estratégias é incentivar o consumo de energia nos horários de maior geração renovável. “Aumentar a carga durante o dia”, explica Frigo. Entre as alternativas, a mais polêmica é a atração de data centers para o Brasil. Esses centros de processamento de dados consomem grandes volumes de energia e poderiam absorver parte do excedente. “É um serviço que existe. Os data centers, a gente está usando, a inteligência artificial usa muito mais energia, então o mundo inteiro está ampliando a sua geração de energia”, pontua o professor, sugerindo que o Brasil poderia se posicionar para atender essa demanda.

Outra vertente é a sinalização de preço, ou seja, a criação de um novo sistema tarifário que torne mais barato consumir energia nos horários de sobra. Isso incentivaria os consumidores a deslocar atividades de alto consumo, como carregar carros elétricos ou usar máquinas de lavar, para o período diurno. “A gente poderia, nós estamos com meio milhão de carro elétrico hoje no Brasil, você está carregando os carros elétricos, está lavando roupa, está trazendo maior parte da dos nossos eh do uso da eletricidade possível, maior parte possível para esse horário onde tem sobra”, exemplifica Frigo. Em alguns países, já se discute até a tarifa zero ou negativa, onde o consumidor seria pago para consumir energia em momentos de grande excedente.

  1. Armazenamento de Energia

O armazenamento é outra peça fundamental para lidar com a intermitência das renováveis. O professor menciona a realização de leilões para grandes baterias, que podem estocar energia nos picos de geração e liberá-la quando a demanda é maior ou a geração renovável é baixa. No entanto, o custo elevado e o impacto ambiental das baterias, que possuem vida útil ainda limitada, são desafios a serem superados.

As usinas reversíveis, que parecem “ficção científica”, são outra solução promissora. Elas funcionam bombeando água para reservatórios superiores quando há excesso de energia e liberando-a para gerar eletricidade novamente quando necessário. “Bombear a água para cima da usina quando está sobrando energia e gerar depois de novo”, descreve Frigo. Essa tecnologia é viável em regiões com relevo acidentado, como Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e parte de São Paulo, e já é amplamente estudada em países como Portugal.

Atores envolvidos e a politização da energia

A transição energética e o problema do `curtailment` não são apenas questões técnicas, mas também políticas e econômicas, envolvendo diversos atores. “A energia ela é uma questão altamente politizada”, afirma o professor Frigo. Há uma “queda de braço” constante entre empresas transmissoras, distribuidoras, o governo, a sociedade e as associações de geradores, incluindo os pequenos.

O professor destaca que os custos iniciais da transição energética, como o prejuízo das usinas que têm sua geração cortada ou o investimento em armazenamento, geram debates sobre quem arcará com essas despesas. “A primeira discussão é quem vai pagar essa energia que é cortada agora”, explica. Além disso, a energia elétrica tem um impacto direto na vida das famílias, sendo um fator importante na despesa mensal, o que torna qualquer alteração tarifária ou de política energética um tema sensível e politizado.

Cenário internacional e o futuro da energia no Brasil

O problema do `curtailment` não é exclusivo do Brasil. Países na Europa e estados como a Califórnia, nos Estados Unidos, enfrentam desafios semelhantes devido à variabilidade das fontes renováveis. As soluções em discussão globalmente seguem as mesmas linhas: gestão inteligente da demanda e armazenamento de energia.

No Brasil, além da solar e eólica, outras fontes como a biomassa (presente em usinas de celulose em Três Lagoas, como Eldorado e Suzano) também injetam energia no sistema e podem sofrer cortes. Historicamente, até hidrelétricas já verteram água por excesso, perdendo potencial de geração. O professor Frigo enfatiza que o `curtailment` “é um problema que não vai desaparecer porque a gente está fazendo a transição energética e as fontes da transição energética elas são intermitentes, elas são muito variáveis ao longo do dia”.

A visão para o futuro inclui a implementação de “smart grids”, “smart cities” e “smart homes”, onde a automação e a inteligência artificial otimizariam o consumo de energia em tempo real, aproveitando os momentos de maior geração renovável. “Quem vai dizer que daqui 5 anos não vamos estar com essa realidade?”, projeta Frigo, indicando que a tecnologia e a inovação serão cruciais para navegar pelos desafios da transição energética e garantir um sistema elétrico mais eficiente e sustentável.

O fenômeno do `curtailment` no Brasil, impulsionado pelo avanço das energias solar e eólica, representa um desafio complexo, mas também uma oportunidade para o setor elétrico. A transição para uma matriz mais limpa é irreversível, mas exige adaptação e inovação para que o excesso de uma boa notícia – a abundância de energia renovável – não se transforme em um problema de instabilidade e custo para o consumidor.

Confira a entrevista:

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