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Especialista fala sobre causas genéticas, fatores ambientais, diagnóstico e desafios enfrentados pelas famílias e profissionais de saúde
Por Henrique Ferian
O número de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem crescido significativamente em Três Lagoas. Em entrevista ao Jornal da Manhã Jovem Pan Três Lagoas, a neuropediatra Dra. Letícia Yanasse Trajano dos Santos El Kadri Neuropediatra e Neurofisiologista Clínico detalhou as possíveis causas, métodos de diagnóstico e os principais desafios enfrentados por famílias e profissionais.
Segundo a especialista, cerca de 80% dos casos de autismo têm origem genética. Casais que já têm um filho diagnosticado com TEA apresentam risco aumentado de ter outro com a mesma condição. “Se o primeiro filho é menino, a chance do segundo também ter o transtorno pode chegar a 13%. Se a primeira diagnosticada for uma menina, esse índice pode ser ainda maior”, explicou.
Além da genética, fatores ambientais como exposição a poluentes, uso de medicamentos na gestação, carência de vitaminas e idade avançada dos pais também contribuem para o risco. “Hoje, é comum que casais tenham filhos mais tarde, e isso influencia na ocorrência de mutações que podem resultar no autismo”, acrescentou Dra. Letícia.
A médica ressaltou que o aumento de diagnósticos também está relacionado à maior conscientização da sociedade e ao avanço nos critérios clínicos usados pelos profissionais. Em 2000, a estimativa era de 1 caso a cada 150 crianças; em 2022, esse número já era de 1 para cada 31.
“A população, em geral, tem mais acesso à informação, e isso faz com que pais e professores identifiquem mais cedo sinais do transtorno”, destacou. O diagnóstico é clínico e multidisciplinar, feito com base na observação do comportamento da criança e aplicação de escalas específicas, como M-CHAT, CARS e SRS2.
Segundo a médica, quanto mais cedo o diagnóstico for feito, melhores são as chances de desenvolvimento da criança. “A suspeita pode surgir nos primeiros meses de vida, mas o diagnóstico mais preciso costuma ocorrer por volta dos dois anos”, afirmou.
Entre os sinais de alerta estão: atraso na fala, dificuldade de socialização e comportamentos repetitivos. Nessas situações, é fundamental que a criança seja avaliada por um especialista.
Dra. Letícia explicou que não existe um tratamento específico para o autismo, mas sim abordagens que tratam os sintomas e comorbidades. Casos mais graves requerem técnicas estruturadas, enquanto os leves podem ser acompanhados com abordagens mais personalizadas.
O tratamento é multidisciplinar e pode incluir psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e professores capacitados. “A escola tem um papel fundamental, mas muitas vezes não conta com profissionais preparados para a inclusão”, alertou a médica.
A médica também fez um alerta sobre os riscos da superexposição nas redes sociais. Embora a troca de experiências entre famílias possa ser positiva, comparações indevidas podem gerar frustrações e atrasar o tratamento adequado. “Cada criança é única, e o que funciona para uma pode não servir para outra”, pontuou.
Apesar dos avanços no diagnóstico, o sistema de saúde ainda enfrenta grandes desafios para atender à demanda crescente. “Mesmo em grandes centros, não há estrutura suficiente para dar conta do número de crianças diagnosticadas. A situação é ainda mais crítica em cidades do interior”, disse.
Para a especialista, é essencial investir em educação e capacitação dos profissionais da rede pública de ensino. “A inclusão não é só uma questão de amor ou boa vontade, é uma técnica. Sem formação adequada, não há inclusão efetiva”, defendeu.
A Prefeitura de Três Lagoas, inclusive, estuda a criação de um centro especializado para atendimento às crianças com TEA, diante do aumento significativo de casos na rede pública.
Confira a entrevista: