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Por Henrique Ferian
No dia 3 de julho, Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, o Jornal da Manhã Jovem Pan Três Lagoas recebeu o Professor José Bento de Arruda, presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Negro trouxe reflexões importantes sobre os desafios e a necessidade de avanços no combate à discriminação no Brasil e, especificamente, na cidade.
Instituído pela Lei Afonso Arinos em 1951, o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial é uma data para reflexão sobre um problema que, apesar de antigo, permanece latente na sociedade brasileira. José Bento de Arruda ressaltou que a criação dessas datas comemorativas serve para que a população reflita sobre temas que ainda necessitam de aprimoramento coletivo.
“O racismo é uma questão de uma estrutura da organização da sociedade brasileira histórica”, afirmou o professor. Ele destacou que, desde sua chegada como mão de obra escrava, a população negra nunca foi plenamente reconhecida por sua contribuição para o desenvolvimento do país. Embora reconheça avanços desde 1951, Bento expressou preocupação com um retrocesso nos últimos anos, atribuindo-o à polarização social e às profundas transformações globais.
A conversa abordou a crescente impaciência generalizada na sociedade, exemplificada no trânsito e refletida na persistência da intolerância racial. Para o professor, a era tecnológica, paradoxalmente, tem contribuído para a intolerância. “Hoje, as pessoas acham que podem sair falando o que querem, como querem, na hora que querem, por meio de um celular, e que tudo vai acontecer a partir da vontade delas”, alertou.
Outro fator crucial apontado é o individualismo. “As pessoas hoje estão pensando muito em si só. Eu não estou enxergando o outro. Eu acho que isto vai ser um legado negativo dessa geração que nós estamos”, disse Bento, lamentando a falta de empatia e o não reconhecimento das diversas diferenças que compõem a rica sociedade brasileira.
Um dos pontos centrais da discussão foi o papel da escola no combate ao racismo. José Bento criticou a visão “envelhecida” das instituições de ensino, que ainda focam predominantemente no desenvolvimento cognitivo, esquecendo que a escola é um reflexo da sociedade e deve abordar temas contemporâneos como a discriminação racial.
Ele revelou que, em Três Lagoas, mesmo após três mandatos como presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Negro, há barreiras para organizar um seminário sobre como a discriminação racial é tratada no currículo escolar. “Não é tratar esses temas apenas naquela data específica, é tratar no cotidiano do currículo”, defendeu.
A escalada da violência nas escolas, com brigas entre alunos e até o envolvimento de pais, é um sintoma da dificuldade em resolver conflitos pelo diálogo. Além disso, o professor mencionou o risco de oposição dos pais à discussão de racismo em sala de aula, especialmente em escolas particulares, onde muitos podem acreditar que o tema não é relevante para seus filhos. “A sociedade muitas vezes essa discriminação acontece lá na casa”, pontuou.
No entanto, Bento reiterou que a escola não pode se “dar por impedida” de discutir o racismo, pois ela é um “amaranhado que absorve toda a sociedade”.
Para combater efetivamente a discriminação, o professor destacou a importância de políticas públicas robustas. Ele citou o SINAPIR (Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial), que oferece financiamento e diretrizes para municípios que possuam conselhos ativos e órgãos administrativos específicos para a promoção da igualdade racial.
Em Três Lagoas, segundo Bento, ainda falta diálogo com a atual administração municipal para avançar na criação de um órgão próprio dedicado ao combate à discriminação. “Passou do momento de Três Lagoas ter um órgão vinculado à igualdade, à discriminação, de combate, de criar políticas públicas que inibem, que combatam essa forma de discriminação que ainda é latente em nossa sociedade”, enfatizou.
Ao encerrar a entrevista, José Bento de Arruda deixou uma mensagem poderosa: tolerância e empatia. “Vamos ser mais tolerantes com os outros, para termos mais empatia, para nos colocarmos no lugar do outro, para entendermos que não é a cor da pele que vai definir os princípios de uma pessoa, mas o que define o princípio de uma pessoa é o seu caráter, é a sua postura.”
A discussão sobre o racismo se entrelaça com a desigualdade social, um tema amplo que, merece ser abordado em outra oportunidade. A esperança é que, mesmo com a evolução tecnológica, a sociedade consiga evoluir também na capacidade de olhar para o outro e de construir relações mais justas e humanas.
Confira a entrevista: