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Por Ygor Andrade
Três Lagoas recebeu com entusiasmo o projeto Canastras e Colmeias, que ganha visibilidade na cidade com uma intervenção estética e ambiental de impacto. Inspirado na convivência entre apicultores e a fauna silvestre, o artista urbano Fernando Berg, de São Paulo, revitalizou uma seção do Muro da ADEN. Seu grafite representa um tatu-canastra ao lado de um raríssimo tamanduá-bandeira albino, transformando o espaço em símbolo de diálogo entre arte e conservação.
Enquanto a pintura ganhava forma, uma pequena feira tomou lugar sob uma tenda na Avenida Clodoaldo Garcia, expondo mel e artesanatos locais que destacavam o elo entre apicultores e o projeto. A iniciativa atraiu curiosos e moradores, gerando debate sobre sustentabilidade, proteção animal e valorização dos produtos derivados da apicultura consciente.
Conversamos com a bióloga Gabriela Longo, coordenadora do projeto e integrante do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres). Ela explicou a gênese do projeto:
“O Projeto Canastras e Colmeias surgiu em 2015 como complemento de pesquisa para mapear a ocorrência do tatu-canastra no Cerrado de MS. Durante o trabalho de campo, apicultores relataram que tatus derrubavam colmeias em busca de larvas — comportamento que surgiu em função da escassez de alimento natural e do avanço do desmatamento.”
O trabalho do projeto ganhou contornos práticos com a criação do “Guia de Convivência entre Apicultores e Tatus-Canastra”, que reúne métodos testados para proteger colmeias sem ferir os animais. Entre as estratégias eficazes, destacam-se cercas protetoras, cavaletes elevados e outras barreiras simples, mas eficientes, para evitar destruição dos apiários. Essas práticas foram testadas e adaptadas, tendo ainda dado origem ao selo “Amigo do Tatu-Canastra”, conferido a produtores comprometidos com conservação e manejo sustentável.
Paulo Ber, artista participante da ação, ressaltou o poder da junção entre arte e conscientização:
“A arte sensibiliza, informa e mobiliza. Ao unir estética à mensagem de preservação, a gente amplia o alcance do tema, alcançando quem talvez nunca refletisse sobre as ameaças ao tatu-canastra.”
O projeto já rendeu frutos importantes: foram mapeados 178 apiários em parceria com associações de apicultores, 73% deles sofreram prejuízos por ações do tatu nos cinco anos anteriores à pesquisa — 46% apenas no ano anterior ao levantamento. O selo “Amigo do Tatu-Canastra” já foi concedido a cerca de 100 apicultores no Mato Grosso do Sul e se espalha por outros estados, como Minas Gerais, Goiás e Pará, ampliando a cultura da convivência pacífica entre produção e conservação.