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Por Henrique Ferian
A concessão da chamada Rota da Celulose, que engloba rodovias federais e estaduais do leste de Mato Grosso do Sul, promete modernizar 870 quilômetros de vias estratégicas. No entanto, o projeto deixa de fora o trecho mais movimentado e vital para o setor produtivo: o que liga Três Lagoas a Campo Grande pela BR-262.
Mesmo com o intenso tráfego de caminhões e carretas que abastecem o polo de celulose e papel da região, não há previsão de duplicação entre Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas, um percurso de mais de 220 quilômetros que continuará com pista simples, acostamentos e pequenas ampliações.
Segundo o governo estadual, o contrato de concessão com o Consórcio Caminhos da Celulose deve ser assinado até o fim de novembro de 2025, quando começa a contagem para as obras e operação privada das rodovias.
De acordo com levantamento do Escritório de Políticas Estratégicas (EPE), o trajeto de Três Lagoas a Campo Grande terá quatro pontos de pedágio, totalizando R$ 57,60 – um dos valores mais altos previstos no Estado.
Os pórticos estarão localizados nos seguintes trechos:
Os valores já consideram o desconto de 8% ofertado pelo consórcio durante o leilão, realizado em maio de 2025. Mesmo assim, o motorista que sai de Três Lagoas e segue até a Capital — sem ter direito a pista duplicada — pagará o mesmo valor de concessão que usuários de trechos com infraestrutura superior.
Os pórticos de pedágio deverão ser instalados até o final do 12º mês de concessão, com início da cobrança previsto para novembro de 2026.
Segundo a secretária especial do EPE, Eliane Detoni, a cobrança não começa automaticamente após a instalação.
“A Agems precisa verificar se todas as intervenções previstas para o primeiro ano foram concluídas antes de autorizar a cobrança”, explicou.
Dos 870,3 quilômetros sob concessão, apenas 115 km terão duplicação. A maior parte (101,7 km) está concentrada entre Campo Grande e Ribas do Rio Pardo, e outros 13,5 km na BR-267, entre Bataguassu e a divisa com São Paulo.
O trecho entre Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas, no entanto, seguirá com pista simples, recebendo apenas 57,5 km de terceiras faixas e 21,9 km de acostamentos.
Na prática, a principal rota industrial de Mato Grosso do Sul continuará sendo um gargalo logístico, com alto fluxo de caminhões e risco constante de acidentes.
Considerada o coração da indústria de celulose e uma das cidades que mais contribuem para o desenvolvimento econômico do Estado, Três Lagoas mais uma vez vê grandes obras passarem perto, mas não dentro de seu território.
O município é ponto de partida de boa parte da produção que movimenta Mato Grosso do Sul, mas ficará sem duplicação, com pedágio elevado e sem garantias de melhorias efetivas na segurança e na fluidez da BR-262.
Enquanto o discurso oficial fala em modernização da logística e integração da rota produtiva, Três Lagoas segue arcando com custos altos e infraestrutura insuficiente, o que reforça a sensação de desequilíbrio nos investimentos públicos e privados destinados ao leste do Estado.